A pedra que alguns denominam Alto Mourão outros chamam de Pedra do Elefante, e tantos outros, Falso Pão de Açúcar. Há ainda aqueles que acham ser o Alto Mourão a rocha imediatamente contígua ao ponto culminante, um pouco mais baixa e com cavidades na sua vertente voltada para a Enseada do Bananal. Enfim, não existe um consenso quanto à denominação correta da pedra símbolo da Serra da Tiririca, visível tanto da Praia de Itacoatiara quanto de Itaipuaçu.
Entretanto, algumas pistas podem ajudar a esclarecer o mistério dos nomes e a confusão decorrente deste fato.
1ª) Um mapa contemporâneo possui a indicação Alto Mourão na rocha situada ao lado da indicação Falso Pão de Açúcar. Esta última indicação refere-se à elevação mais alta (412m). É possível que venha daí a confusão de nomes e localizações, haja vista que tal mapa é amplamente utilizado. Ressalte-se, ainda, que não são raros os equívocos cartográficos na localização de morros e picos.
2ª) Quem olha da Praia de Itaipuaçu para o Recanto distingue perfeitamente a cara de um paquiderme na rocha limítrofe, com olho, tromba e orelha. Evidentemente, a denominação Pedra do Elefante é uma alusão a esta semelhança; portanto, supõe-se que seja relativamente recente e de autoria popular.
3ª) Um mapa datado de 1586, de autoria de João Teixeira Albernaz, indica claramente a localização do Pão de Martim Mourão (referência ao donatário da sesmaria que incluía esta elevação) no lugar onde figura o Falso Pão de Açúcar nos mapas atuais. Já a "Carta Topográfica da Capitania do Rio de Janeiro", de Manuel Vieira Leão (confeccionada por volta de 1800), apresenta a designação de Alto Mourão para o mesmo morro (Grael, citando Adonias. Anais do IV Congresso Brasileiro de Defesa do Meio Ambiente. Rio de Janeiro, 1993).
4ª) Helmut Oskar Heske, famoso excursionista pioneiro (falecido em 1998), afirmava categoricamente que o Alto Mourão é a mesma "coisa" que Pedra do Elefante e Falso Pão de Açúcar. Entretanto, por se tratar de fonte primária e sem registro – apesar de fidedigna –, não pode ser considerada como prova fundamental. Por outro lado, o tradicional Centro Excursionista Brasileiro (CEB) adota há décadas as mesmas denominações (Alto Mourão, Pedra do Elefante, Falso Pão de Açúcar, e ainda: Pedra de Itaipuaçu) para a mesma rocha de 412m.
Finalmente, conclui-se que:
a) o ponto culminante da Serra da Tiririca tem como nome historicamente original
Alto Mourão. Todos os outros – Pedra do Elefante, Falso Pão-de-Açúcar e Pedra de Itaipuaçu – são referências posteriores à mesma elevação, evidentemente adotadas e consolidadas pelo uso popular;
b) o morro imediatamente contíguo ao verdadeiro Alto Mourão (a pedra com cavidades em sua vertente para a Enseada do Bananal) recebe às vezes a mesma e equivocada denominação, devido a um erro cartográfico em um mapa contemporâneo (até onde se sabe). Tal engano é agravado pelo franco uso desta indicação por estudiosos e freqüentadores do parque. Depreende-se disto que o "Falso Alto Mourão" não tem nome! Uma sugestão razoável seria a adoção do nome "Pedra da Solidão", aproveitando o nome dado pelo biólogo Jorge Antônio Pontes a uma gruta – a "Furna da Solidão" - localizada logo abaixo do cume da referida rocha.
Mais do que uma simples atualização, o esclarecimento das verdadeiras denominações daquela área da Serra da Tiririca ajudam a resgatar e valorizar o passado histórico da região, além de facilitar a localização e orientação espacial para todos os que lidam com o parque, como guias ecológicos, pesquisadores e ecologistas.
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